terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Van Gogh, uma alma atormentada


Foi lá pelos anos 90, quando conheci o Fábio Moraes, irmão de coração, que eu me encontrei com Van Gogh e sua arte. Até então, esse nome apenas me fazia lembrar um pintor louco que cortou a orelha ...Mas a paixão do Fábio pelo pintor holandês me fez mudar de idéia, e em pouco tempo eu também estava apaixonado por Van Gogh e sua arte. Comecei a ler sobre sua vida, as cartas que ele escreveu a Theo, seu irmão, seu eterno amigo e confidente, aquele que o sustentou durante toda sua vida...

O entusiasmo que ele nos passa nas suas cartas, a paixão com que fala de arte, das cores, das tintas, das pessoas que conheceu...das técnicas que descobria a cada dia, da luz do sol...que ele descobriu quando foi ao sul da França. Para ele, tudo podia se tornar arte: um par de sapatos velhos, um cachimbo sobre uma cadeira, uma vaso com girassóis, um pomar em flor. Pontes, bares, barcos, ruas, uma igreja, uma noite estrelada, um trigal com corvos...o gênio não se intimidava...queria pintar, e sua paixão o levava aonde o sol ia...precisava "aproveitar aquela luz..."



Seu sonho de formar uma comunidade de pintores morando juntos...sonho frustrado quando se desentendeu com Gaugin, por quem tinha uma profunda admiração...e por causa disso, num acesso de fúria, corta parte de uma orelha. Mas isso não o desanima, e ele pinta seu retrato com um curativo na orelha decepada!



Só mesmo uma alma atormentada poderia chegar a isso! Ele não sabia mais o que fazer para compensar seu irmão, que o mantinha todos os meses com dinheiro, tintas e telas. Por pagamento ele só tinha a retribuir com suas telas pintadas com tanta emoção e ternura. Sua angústia em saber que poderia atrapalhar a vida de Theo, depois que se casou e teve um filho, levou-o à atentar contra a própria vida.


Em toda sua vida, vendeu apenas uma tela, das 700 que pintou...Ele nunca poderia imaginar que, um século após sua morte, suas telas estariam valendo milhões de dólares! Se o que ele queria era chamar atenção sobre uma nova forma de representar o mundo à sua volta, ele conseguiu. Hoje, o mundo se curva à sua maestria, à sua grandeza. Exposições ficam cheias, livros são escritos sobre sua vida, sobre sua arte e sua técnica.

A ele, que vive para sempre nas obras que deixou, minha homenagem. Que Deus ilumine nossa vida, inspirando-nos a pintar como ele pintava, com o coração, com a alma, com todo o seu corpo...
Último auto-retrado


Reconstituição artística do rosto de Vincent Van Gogh, a partir do seu último auto-retrato, meses antes da sua morte, quando estava com 39 anos.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Uma capela em nosa casa

Nunca tivemos um lugar em casa que pudéssemos chamar de "sagrado". Nas casas onde moramos sempre havia o local do sagrado, um oratório, um crucifixo, mas ficava sempre em lugares públicos, sem uma identidade própria e não oferecia intimidade para oração.



Nesta nova casa nós conseguimos criar esse espaço. Originalmente era um depósito entulhado de coisas, e nós o transformamos em uma capela. Ali colocamos nossos objetos sagrados: um crucifixo, uma âmbula, um sininho, imagens de santos, nosso ícone de Cristo, e até uma pedra d'ara e uma lanterna de sacrário, garimpadas em uma demolição realizada por pessoas sem conhecimento religioso e litúrgico.


Inicialmente, criamos um espaço de oração com o que tínhamos. Depois de um tempo, numas férias que tirei no trabalho, idealizei um oratório feito no estilo barroco brasileiro, em madeira dourada e policromada.


Desde o projeto até a execução, foram momentos de oração sob a inspiração do Espírito Santo. Hoje, ele é o nosso "claustro", onde nos colocamos na presença de Deus e onde Ele fala conosco, no silêncio, em meio aos cantos dos pássaros e à beleza das flores. Fica no fundo de nossa casa, junto a um belo jardim... Lá é o nosso "espaço sagrado".



Secret Garden

Quando decidimos morar em Jacareí, tínhamos em mente comprar uma casa que tivesse um quintal, que não fosse grande, mas que fosse acolhedor, e onde pudéssemos cultivar nossas flores, e onde os pássaros viessem brincar e tomar água, buscar o refrigério nos dias quentes. Onde ficaríamos com nossos amigos, sentados sob a sombra das samambaias, conversando e trocando idéias.


Essa casa apareceu quendo já estávamos quase desistindo, após muitas visitas e tentativas. Tinha um espaço no fundo da casa, mas estava vazio, frio, não havia o menor sinal de vida...


Após nossa mudança, começamos a colocar nossa marca, nossas plantas e coisinhas, enfeites, artesanato regional. Introduzimos algumas azaléias, samambaias e avencas, orquideas e trepadeiras, palmeiras e maria-sem-vergonhas. Logo colocamos uns bebedouros para beija-flores, e passamos a ter visitantes diários, que chegam logo cedo, antes mesmo do sol nascer, reclamando quando não há água para eles.


O canto dos pássaros e a beleza das flores deste jardim formam o cenário perfeito para se descansar..é o claustro do nosso "mosteiro", de onde não dá vontade de sair...Lá, sentimos a presença de Deus...é o lugar do nosso descanso...em quase 30 anos de casados, nunca tivemos um lugar assim, onde o silêncio e a intimidade com o Pai nos levasse a novas experiências espirituais.
Hoje, ele é o espaço preferido da minha esposa...um lugar de descanso e paz! O nosso Secret Garden...

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Folhas de Acanto

Certa vez, durante meu curso de arquitetura e urbanismo, na FAU-USP, deparei-me com a foto do teto de uma capela bandeirista que estava sendo restaurada pelo IPHAN, mais precisamente a Capela da Fazenda Santo Antonio, em São Roque. Eram folhas de acanto, nas cores vermelho, azul e dourado, que se entrelaçavam harmoniosamente formando arabescos graciosos e delicados. Essa figura me deixou extasiado, e comecei a me lembrar de quantas vezes já tinha visto esse tipo de ornamento, sem ao menos prestar atenção aos seus detalhes. Lembro-me de uma coleção de discos de vinil, lançado nas bancas de jornal na década de 70, de música clássica barroca, que trazia na capa uma ilustração em folhas de acanto, muito parecida com esta da capela Santo Antonio, de São Roque. Logo associei esta imagem aos ornamentos barrocos que existem pintados no teto da Igreja Matriz de Tiradentes, em Minas Gerais. 



Interessante como estes motivos continuaram a me fascinar. Esses padrões de folhas de acanto inspirado nos modelos greco-romanos, perpetuados nos estilos renascentistas e barrocos. Esses mesmos motivos me inpiraram na decoração do retábulo que montei em casa, mas com uma nova leitura e interpretação, nas cores e nos traços. Abaixo, fragmento da pintura do teto da Capela Santo Antonio, em São Roque.