sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Igreja de São Francisco - Salvador, Bahia: tesouro da arte barroca brasileira


A Igreja de São Francisco, construída no século XVIII, é uma das mais ricas do Brasil sendo a mais exuberante de Salvador. Alguns a consideram o mais belo exemplar do barroco português no mundo. O seu interior é todo recoberto em ouro e jacarandá com talhas  retratando anjos, animais e flores.


Existem inúmeros Painéis de Azulejos, em tons de azul, na entrada do templo, no Altar e na Sacristia, retratando cenas alusivas a São Francisco de Assis — seu nascimento e renúncia aos bens materiais, trabalhos pintados por  Bartolomeu Antunes de Jesus, um dos grandes mestres da azulejaria de Portugal.

No  Convento, prédio adjacente à Igreja, cuja construção foi concluída em 1752, há inúmeros painéis de azulejos decorando o ambiente. O conjunto mais significativo encontra-se na parte térrea do Claustro. Trata-se de  37 painéis medindo cerca de 2 metros de altura cada um, que retratam cenas baseadas em gravuras do pintor holandês Otto van Veen , apresentando personagens da mitologia em cenas edificantes, com epígrafes latinas extraídas da obra do poeta e filósofo Horácio.

Este bem cultural pode ser visto assistindo-se o espetáculo de  Luz e Som,  que é apresentado diariamente na Igreja aos visitantes.

Foram escolhidas e reveladas no dia 10.06.2009 as “7 Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo”: A Fortaleza de Diu (Índia), Fortaleza de Mazagão (Marrocos), Basílica do Bom Jesus de Goa (Índia), Cidade Velha de Santiago (Cabo Verde), Igreja de São Paulo (Macau), Convento de São Francisco de Assis da Penitência (Ouro Preto - Minas Gerais, Brasil) e Convento de São Francisco e Ordem Terceira (Salvador - Baía, Brasil).

História
Sua origem data de 1686, seguindo um projeto do Padre Vicente das Chagas. O convento foi iniciado primeiro e, em 1708, foi lançada a pedra fundamental da igreja, com o edifício terminado em 1723, mas sua decoração ainda levou mais tempo. O convento foi concluído em 1752, porém todo o complexo só foi finalizado em 1782, com a colocação dos azulejos e arremate da portaria.

No século XX, os edifícios passaram por intervenções de restauro em diversas ocasiões.


Características
A planta da igreja é incomum entre as edificações franciscanas do Nordeste brasileiro, pois tem três naves, ao passo que o desenho mais usual conta com apenas uma nave. A fachada, voltada para um grande largo onde existe um cruzeiro, tem influência maneirista, com duas torres laterais relativamente simples e um volume central mais decorado, especialmente no frontão.


A igreja é especialmente preciosa pela sua exuberante decoração interna. Todas as superfícies do interior - paredes, colunas, teto, capelas – são revestidas de intrincados entalhes e douraduras, com florões, frisos, arcos, volutas e inúmeras figuras de anjos e pássaros espalhadas em vários pontos, além de painéis em azulejos portugueses com cenas e inscrições moralistas diversas. É considerada uma das mais significativas expressões do barroco no Brasil. O teto possui pinturas de Frei Jerônimo da Graça, realizadas entre 1733 e 1737.

A portaria lateral que dá acesso ao convento, possui pintura ilusionista no teto atribuída a José Joaquim da Rocha na segunda metade do século XVIII.

O convento foi construído em torno de um claustro quadrado, tem um sub-solo e dois pavimentos sobre o nível da rua. Sua decoração mostra ricos painéis de azulejo da primeira metade do século XVIII, parte deles criada por Bartolomeu Antunes de Jesus em 1737, em Lisboa.

Altar lateral 

Vista da nave, a partir do altar

altar lateral esquerdo

Presbitério

altar lateral - detalhe
Púlpito ricamente ornamentado com talhas douradas e policromadas, no estilo que predominava desde o início até meados do século XVIII, com a profusão de entalhes volumosos, onde quase não se vê a parede.
galeria de altares laterais - púlpito

teto da galeria lateral

arco que separa a galeria lateral da nave principal

mesa de altar lateral
Azulejos portugueses contam a história de São Francisco  seus milagres.
altar mor

parede de azulejos portugueses - altar

forro do altar mor
Ouro, branco e azul predominam em toda a composição desta magnífica igreja.
retábulo do altar mor

retábulo principal - detalhe

janelas laterais e forro
Detalhe do retábulo principal de São Francisco de Assis, cuja imagem é iluminada por cima através de clarabóia.
detalhe do arco cruzeiro do retábulo mor

detalhe do piso de marchetaria de mármore - altar mor

colunas do coro

forro do piso do coro

entrada - vista esquerda

detalhe da mesa do presbitério
Nesta foto pode-se ver a profusão de entalhes do retábulo lateral, onde o ouro se faz abundante.
detalhe de retábulo lateral
Riquíssima ornamentação em madeira entalhada e policromada, com predominância do ouro.
detalhe do forro de galeria lateral
Outra visão de detalhes do forro lateral. As talhas douradas cobrem paredes, pilares e teto.
outro aspecto do forro de galeria lateral


forros da nave e do altar mor

altares colaterais

altar lateral


altar mor

vista geral da nave
Quero deixar aqui registrado os meus parabéns pelo magnífico trabalho do grupo Onze Onze, que realizou o Tour Virtual pela Igreja de São Francisco, em seu site abaixo. Não deixem de ver, é maravilhoso, e permite a visualização de todos os espaços internos da nave da igreja, o que é difícil de se fazer pessoalmente, em virtude da deficiência de iluminação. A maioria das fotos aqui apresentadas foram obtidas do site abaixo, através do tour Virtual. 


terça-feira, 21 de junho de 2011

O Precioso Legado de Ingres


Jean-Auguste Dominique Ingres (29 de agosto de 1780 - Montauban - 14 janeiro de 1867 - Paris) foi um célebre pintor e desenhista francês, atuando na passagem do Neoclassicismo para o Romantismo. Foi discípulo de Jacques-Louis David, tendo se formado em sua oficina.
A grande Odalisca - 1814 - Ingres
Um homem profundamente respeitoso com o passado, Ingres assumiu o papel de guardião da ortodoxia acadêmica contra o estilo romântico ascendente, representado por seu opositor Eugène Delacroix, permanecendo fiel aos postulados neoclássicos do seu mestre David ao longo de toda a vida. Passou muitos anos em Roma, onde assimilou aspectos formais da arte de Raphael e do maneirismo.
Napoleão - óleo sobre tela  - Jean-Auguste Dominique Ingres
Ingres sobreviveu um bom tempo à época de predomínio do seu estilo, dado que morreu em 1867. Seus modelos, como ele explicou uma vez, foram "os grandes mestres que floresceram naquele século de gloriosa memória, quando Rafael definiu os limites eternos e incontestáveis do sublime em arte ... Eu sou assim um conservador da boa doutrina, e não um inovador ".
Embora ele se considerasse um pintor histórico, na tradição de Nicolas Poussin e de David, no final de sua vida eram seus retratos, pintados e desenhados, que foram reconhecidos como seu maior legado.

Princess de Broglie - 1851-53 - Ingres

Suas elegantes figuras femininas, representando a nobreza e a burguesia de sua época, são um testemunho vivo da graça e da beleza da mulher parisiense, do luxo dos salões dos palácios e mansões das classes mais abastadas, assim como da moda e dos costumes de sua época.

Delphine Ramel, Madame Ingres - lápis - Ingres
Delphine Ramel, Madame Ingres - óleo sobre tela - Ingres
Os retratos de família, trabalho que Ingres considerava menos importante, foi o que muitas vezes o sustentou, visto que era muito requisitado pela sociedade da época. O cuidado com que captava as expressões, os costumes e trajes revela sua grande sensibilidade como observador do cotidiano. 

Louis François Bertin, 1832
Óleo sobre tela, 95 x 116 cm
Museu do Louvre, Paris, França

Notórios também são seus retratos masculinos, em que consegue, com maestria ímpar, captar o espírito, o caráter e a ideologia de uma época, na figura dos seus retratados. Sentado numa simples cadeira contra um fundo sóbrio, Bertin, o fundador e director do Journal des Débats, simboliza a burguesia liberal e as suas instituições. Esta retrato soberbamente delineado é considerado um dos melhores do século XIX e sem dúvida uma obra-prima de Ingres.

Mademoisele Reviere - Ingres
Não obstante a crítica moderna tender a considerar Ingres e os outros neoclássicos de sua época como tendo incorporado o seu espírito romântico, suas distorções expressivas de forma e espaço fazem dele um importante precursor da arte moderna. É considerado hoje um dos mais importantes nomes da pintura do século XIX.

Rogerio libertando Angélica - J.A.D. Ingres
As irmãs Kaunitz - Ingres 
Paganini - Ingres

Família Stamaty - 1818  Ingres
Madame Victor Baltard, Adeline,  e sua filha Paule - Ingres
Joseph Woodhead e sua esposa Harriet, com e seu irmão Henry-George Wandesford - Ingres
A odalisca e a escrava - Ingres
O Consul Napoleon Bonaparte -Ingres
Banho turco - 1862 -  Ingres
Já nos últimos anos de sua vida, Ingres se deleitava em pintar as mulheres em sua intimidade, nos banhos turcos, temática que muitas vezes retratou. Neste quadro acima, datado de 1862, ele retrata, em primeiro plano, aquela que foi talvez a sua musa inspiradora, cuja imagem ficou perpetuada na famosa tela conhecida como "a banhista de valpinçon".